“O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes”, ensinou há tempos o técnico italiano Arrigo Sacchi. Pois onde “corre” a bola também corre o sangue nas veias. Onde há sangue, há paixão, e onde existe paixão, há histórias que merecem ser contadas. Na vitória do America por 3 a 1 contra o Artsul, neste domingo (2), havia mais de mil dessas vivências no Giulite Coutinho. Uma em especial chamou atenção em meio às arquibancadas: Dona Ângela Rosa Modesto Vieira, de 81 anos.
O amor
Para contar a relação da idosa com o Mecão, é preciso voltar 60 anos no tempo. Foi em 1964 que a matriarca da família Modesto conheceu – numa fila de cinema – Waldyr Vieira, um daqueles americanos de corpo e alma, cria da Tijuca e frequentador assíduo do clube. Foi por meio do parceiro de sua vida, com quem ficou junto por 45 anos, que Ângela descobriu o segundo amor: o America Football Club.
“A minha história de amor com America começou com meu marido. Ele sempre foi apaixonado pelo America. Nós compartilhávamos tudo, então também me tornei America, de forma natural, e posso dizer que fiquei mais apaixonada do que ele”, relatou.
Por quase meio século, Dona Ângela e Seu Waldir peregrinaram atrás do Mecão. Juntos, eles fundaram até uma torcida organizada. Na década de 80, quando o time foi campeão dos Campeões (82) e obteve sua melhor campanha no Campeonato Brasileiro, o quarto lugar em 86, o casal chegou a ir duas vezes por semana a São Paulo para apoiar os jogadores.
“Eu acompanhava o America no Brasil inteiro. Onde o America ia, a gente estava. Já apanhei em estádio de cassetete por causa do America. Mas a gente nunca desistiu de ir. Tinha semana que íamos duas vezes para São Paulo por causa do America. Na maioria das vezes, voltávamos chorando. Era muito difícil voltar alegre. Chegou um ponto que meu marido queria vender a nossa casa no Grajaú para comprar uma casa do lado do Giulite Coutinho”, declarou.
O luto
O America sempre esteve no sangue de Ângela, que passou esse amor para duas filhas, cinco netos e dois bisnetos, mas o clube virou um tabu após a morte de seu marido, em novembro de 2008 – o óbito, coincidentemente ou não, ocorreu poucos meses após o clube ser rebaixado pela primeira vez à segunda divisão do Rio. Desde então, abriu-se uma ferida dolorosa no peito da torcedora que, enlutada, ficou mais de 15 anos longe dos estádios.
“Antes do Waldir morrer, ele pediu muito para que eu não deixasse de acompanhar o America, que eu continuasse acompanhando. Depois que meu marido faleceu, eu ainda tentei voltar para o estádio, vim uma vez e saí mal para caramba. Desde então, nunca mais vim”, desabafou.
A cura
A “cura” ocorreu pouco a pouco, graças ao tempo e à ascensão do clube sob gestão do presidente Romário. No domingo, depois de longos anos longe de “casa”, ela retornou para as arquibancadas do Giulite Coutinho. Mas não sozinha. Sem seu velho escudeiro, Dona Ângela foi abraçada por sua família, que fechou uma van com 12 pessoas. A caravana, aliás, foi um presente de aniversário – ela fez 81 anos na quinta-feira passada (30).
“Foi muita emoção voltar. Achei muito diferente do que era. O estádio está bem melhor, com certeza o Romário deu uma consertada. Estou muito otimista. Sempre encontrava com Romário e perguntava quando ele voltaria. Agora ele veio e está levantando o America”, finalizou.
Além de Dona Ângela e sua família, estão com o clube nesta nova caminhada marcas conceituadas como Athleta, Euro17 crédito, Fecomércio RJ, Inove Mais Benefícios, Superbet, Vida emergências médicas, Avanutri Recovery, Medicorp, Cis Taquara e go.bank. Todas de mãos dadas com o objetivo de ver o Sangue voltar ao topo.